Nesta terça-feira, 5, a Procuradora do Ministério Público de Contas do Estado de Minas Gerais (MPC-MG) Maria Cecília Borges participou da abertura oficial do Mês da Consciência Negra no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG). A agenda cultural, denominada Caminhos para a Consciência, é voltada para a arte, a memória e a representatividade.
Além da Procuradora, estiveram presentes o Presidente do TCE-MG, Conselheiro Durval Ângelo, o Conselheiro em exercício Licurgo Mourão, a Desembargadora do TJMG Shirley Fenzi Bertão, entre outros.

A noite cultural teve início com a abertura da exposição “Faces”, do artista Agnaldo Canuto, no Salão Mestre de Piranga. Morador do Morro das Pedras – comunidade vizinha ao Tribunal – e atuante como pedreiro, o artista apresenta esculturas em madeira que expressam a força criativa e identitária do povo negro – sua primeira exposição aos 60 anos de idade.
Já no Auditório Vivaldi, o público foi brindado com uma apresentação potente do Coral Afro Vozes de Caxambu, projeto pedagógico do Quilombo de Caxambu (do Município de Rio Piracicaba/MG), que busca preservar tradições congadeiras e a música afro-brasileira entre crianças e jovens.


Na sequência, teve início a 3ª edição do Sempre um Papo – TCE Cultural, com a presença da escritora Conceição Evaristo, uma das mais importantes vozes da literatura contemporânea brasileira. A autora participou de um bate-papo com a professora e escritora Luana Tolentino sobre educação, afeto e escola, mediado pelo livro “Canção para ninar menino grande”, publicação mais recente da autora. A conversa ganhou ainda mais significado com a presença da Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, que esteve no Auditório Vivaldi para prestigiar a prima.
Evaristo tinha uma certeza desde criança: queria ser professora. Sendo uma das poucas crianças alfabetizadas da família e da favela do Pendura Saia (em Belo Horizonte), onde morava, ela assumiu a função de auxiliar no dever de casa de seus irmãos mais novos. Daí passou a ensinar as crianças do entorno, montando uma banqueta com mesa sob um pé de manga ou de abacate e ali começava a fazer o que mais gosta na vida, que é ensinar. Mais velha, fez o curso normal em Belo Horizonte e prestou concurso público no Munícipio do Rio de Janeiro para magistério.
Ao falar de suas personagens e obras, Conceição destacou a potência das conquistas de mulheres negras e periféricas no ensino superior, sem perder de vista as desigualdades estruturais que persistem no país. “Tem algo muito errado na sociedade brasileira que, quando um negro está num lugar de destaque, quando uma pessoa negra consegue romper com isso tudo, vira a cereja do bolo. Toda exceção confirma uma regra. A gente não pode perder de perspectiva que a grande maioria do povo preto e pobre não tem uma condição de vida digna. Ter oportunidades ainda não é a realidade da maioria da população pobre”, alertou.
Perguntada sobre o 20 de novembro e os avanços e retrocessos que aconteceram em virtude da luta do movimento negro por direitos, Evaristo diz:
“Houve um avanço, sim, no que se refere à questão racial na sociedade brasileira. Houve um avanço, sim, nas oportunidades oferecidas às pessoas negras – não oferecidas como dádivas, e sim como direitos. Ao mesmo tempo que há avanço, nós vivemos em constante estado de perigo. Esse retrocesso compromete o Brasil. Entendo que esta casa, um lugar onde se pensa contas de um Estado, é um lugar que deve também pensar justiça.”
Ao final do bate-papo, a escritora recebeu o público em uma sessão de autógrafos.


SAIBA MAIS
Sempre um Papo – TCE Cultural é uma iniciativa cultural do Tribunal de Contas e da Associação Sempre um Papo com patrocínio da Copasa via Lei Rouanet. O projeto propõe transformar os temas técnicos de fiscalização e controle em debates culturais acessíveis, mediados pela literatura, pela arte e pela escuta cidadã.
Confira a 3ª edição do Sempre um Papo – TCE Cultural na íntegra aqui.

